‘Queremos uma burocracia que seja a cara do Brasil’. Esther Dweck concede entrevista sobre Concurso Nacional Unificado
O intuito do certame é preencher cerca oito mil vagas disponíveis no serviço público federal ao longo de 2024
Na última semana, o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) propôs aos órgãos da União a realização de um Concurso Nacional Unificado. Cerca de 60 já abraçaram a ideia. O intuito é que o processo seletivo preencha cerca oito mil vagas disponíveis no serviço público federal ao longo de 2024. Em busca de entender os objetivos dessa reformulação, o EXTRA entrevistou a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck. Acompanhe os esclarecimentos da ministra:
Quem sugeriu o Concurso Nacional Unificado?
Eu não vou conseguir precisar exatamente o mês. Mas fizemos uma reestruturação nas secretarias. E o José Celso Cardoso Jr., que assumiu a Secretaria de Gestão de Pessoas, trouxe essa proposta.
De onde veio a ideia?
O secretário teve uma inspiração muito forte no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Então, ele foi conversar com os especialistas do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) para tentar entender como era esse processo.
Quando essa proposta de uma seleção única ficou pronta?
Foi há duas semanas. Passamos um bom tempo em diálogo para formatar a melhor estratégia possível. Depois disso, levamos para a Casa Civil, que aceitou a proposta. Então, levamos a ideia ao presidente Lula.
O presidente Lula participou da elaboração ou só aprovou a proposta?
Nós levamos para o presidente o que seria essa proposta, para saber se ele achava interessante. E ele achou bastante interessante.
Haverá um departamento dentro no MGI para preparar esse concurso?
Não, mas será montado um time interministerial, que incluirá o núcleo do MGI. Teremos pessoas de todos os ministérios, que criarão equipes para tocar essa questão. Junto a isso, teremos a participação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), da Escola Nacional de Administração Pública (Enap), da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Secretaria de Comunicação Social. Teremos uma equipe totalmente interministerial para a gestão desse concurso.
Como o candidato deverá se preparar?
Vai haver um espaço entre a publicação do edital e a aplicação da prova, que será em um único dia, dividida em um bloco de questões objetivas. além de questões referentes a cada bloco temático. Então, nesse tempo, as pessoas vão poder se guiar pelo que estiver previsto no edital. E, claro, elas deverão levar à prova a bagagem de vida que conseguiram acumular.
Que mudança de perfil que se espera com esse concurso?
Nós queremos uma burocracia representativa da sociedade brasileira. A gente quer uma burocracia que seja a cara do Brasil.
A partir disso, qual é a lógica? Em primeiro lugar, proporcionarmos uma representatividade regional. Queremos uma prova que não inviabilize a vida das pessoas, para que não seja preciso comprar uma passagem de avião para realizar a prova.Se regionalizarmos, vai ter mais indígenas, mais negros fazendo a prova.
Segundo, buscamos uma representatividade de classe e de renda. Há uma parcela da população que não tem recurso para pagar inscrições em diversos concursos. Também estamos melhorando a forma de aplicação das cotas.
Com o concurso, o que o governo pretendem mudar na forma de ingresso no funcionalismo público?
Temos organizado a capacidade de fazer concursos, mas de uma forma melhor do que governos fizeram anteriormente. Acho que o nosso grande lema é a democratização do acesso ao serviço público.
Queremos um servidor público que tenha o perfil do povo brasileiro, porque isso muda radicalmente a forma de fazer política. Conforme se traz mais diversidade, essas pessoas trazem a bagagem de vida delas, e isso influencia nas discussões internas do governo, isso muda a capacidade de fazer política para a gente.
Qual o objetivo maior dessa reformulação?
O povo brasileiro é o nosso grande objetivo, e a gente acha que essa experiência tem tudo pra ser exitosa.
Temos a expectativa de que esse processo será mais recorrente. Queremos uma recorrência mais perene. Nossa intenção é criar expertise dentro do serviço público para a realização de concursos. Estamos usando já a expertise do Inep, na realização do Enem, para formular esse processo.
Fonte: Extra